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A importância dos limites!

É o mais novo que atira o prato da sopa ao chão, ou o mais velho que não para de dizer “só mais cinco minutos” depois de lhe pedirmos para desligar a Playstation. Os nossos filhos estão constantemente a desafiar as regras que nós definimos, pelo que não é de admirar que muitos pais percam o ânimo e se interroguem: valerá a pena o esforço?


Ninguém disse que educar era uma tarefa fácil. É o desafio da paternidade. Portanto, sim, o esforço valerá certamente a pena, uma vez que o resultado final será um ser humano equilibrado e feliz.


À primeira vista pode parecer que as regras e os limites são invenções dos adultos, para diminuírem o caos na sua vida e tornarem mais fácil a tarefa de criar os filhos. Mas a verdade é que são essenciais para os miúdos, e, longe de os castrar e de lhes esmagar o espírito, são necessários para que possam desenvolver-se e prosperar. As crianças precisam de regras e limites. Precisam de crescer ‘balizadas’, ou seja, precisam que alguém as oriente, para que consigam distinguir claramente o certo do errado. Uma criança sem regras nunca poderá ser um adulto emocional e socialmente equilibrado.


Estabelecer regras e limites dá muito mais trabalho do que deixar as crianças fazerem o que quiserem. Mas não podemos nos esquecer que a nossa missão enquanto pais é humanizar os nossos filhos e prepará-los para o mundo. Muitas vezes é difícil, estamos cansados, e queremos fazer de conta que não vimos/ouvimos quando eles desrespeitam uma regra, mas não estamos a fazer-lhes um favor. As regras são extremamente importantes para as crianças. O raciocínio delas, ainda que inconsciente, é que se os pais não são capazes de lhes impor limites, também não são capazes de as proteger. Porque as regras dão segurança. Quando a criança não sabe quais são os seus limites, o mundo torna-se angustiante.


As regras são reconfortantes. Ou seja, mesmo agindo sempre como se quisessem estar no controle, as crianças sabem, instintivamente, que precisam de um adulto para as guiar. Nós somos o único ser que necessita até muito tarde de um cuidador, de forma a assegurar a sobrevivência. Esta realidade faz com que, desde o nascimento, tentemos cativar os nossos pais, através de comportamentos tão simples como o sorriso. À medida que vamos crescendo, vamos estabelecendo uma forte ligação de apego com os nossos cuidadores, porque assim temos garantida a nossa sobrevivência. Posto isto, de alguma maneira ‘sabemos’ que precisamos muito dos adultos.


As regras preparam as crianças para o mundo real, dando-lhes balizas de comportamento, para que percebam o que se espera delas e o que pode acontecer caso não correspondam. Os limites familiares e as consequências de os ultrapassar ajudam-na a adaptar-se mais facilmente a situações novas. E fornecem um sentido de ordem que é imprescindível ao crescimento, ajudando as crianças a prever o que vem a seguir. Ao saberem, de antemão, o que se espera delas, cooperam mais facilmente e ganham um sentimento de pertencimento.


Algumas regras são apenas sobre boas maneiras e isso ensina as crianças a se socializarem. Coisas tão simples como ser educado e dizer “obrigado” ou “por favor”, aprendidas em casa, tornam a criança agradável de se estar, ao mesmo tempo que lhes ensinam formas adequadas de conseguir o que querem. E outras são ensinamentos básicos de segurança, cuja única finalidade é proteger os filhos. "Não ponhas nenhum objeto nas tomadas elétricas” ou “Usa capacete quando andares de bicicleta”. Além de os mantermos seguros, quando insistimos para que os nossos filhos obedeçam a determinadas regras de segurança em casa e na escola, os estamos preparando também para, no futuro, respeitarem a lei.


Bom senso

Há pais que veem o estabelecimento de regras como um ponto de fricção, de desentendimento com os seus filhos. Mas, em vez de atrito, o que acontece é exatamente o contrário: definir normas e limites claros reduz as lutas pelo poder, uma vez que as crianças conhecem as regras e não precisam de estar constantemente a testar os pais para descobrir onde estão os limites. Isto significa apenas que, depois de algumas tentativas, percebem que insistir não as vai levar a lado nenhum.


Portanto, está claro que os filhos precisam de regras. Mas o que devemos ter em conta na hora de as definirmos? Além da idade e maturidade dos nossos filhos, as regras estão intimamente ligadas ao tipo de valores que se pretendem transmitir aos mais novos, e esses variam de família para família. Além disso, há que se ter em conta a razoabilidade das regras.


O ideal é que as regras sejam estabelecidas pela disciplina positiva, sempre que possível: Dizer, por exemplo, ‘Podes ver meia hora de televisão quando chegas da escola’, em vez de ‘Não podes passar a tarde a ver televisão’, ou ‘Só podes lanchar na cozinha ou na mesa da sala’ em vez de ‘Não podes comer no sofá’, parece pouco, mas faz muita diferença.


No geral, cabe aos pais a tarefa de definir as regras e fazê-las cumprir, avisando sempre que, caso sejam quebradas, existem consequências. Mas algumas podem ser negociadas. O ideal, é que os pais exerçam um estilo parental apropriado (também denominado democrático), em que as regras sejam explicadas, de forma a que os mais novos as interiorizem, mas que lhes faça sentido.


Podemos negociar o que for negociável – as regras de segurança, por exemplo, não estão abertas a discussão – e explicar-lhes as coisas. Isso é bom, porque estamos a tratar as crianças como pessoas, e também porque se elas estiverem envolvidas na definição das regras e das consequências de as quebrar, vão interiorizando a dinâmica da família. E o filho tem o direito de contestar, claro, afinal estamos dizendo para não fazer algo que ele quer fazer, mas se as regras forem claras e justas, acaba por ceder e compreender.


Além de regras claras, é preciso que sejam transmitidas com firmeza. Mas firmeza não significa rigidez e inflexibilidade a qualquer custo. A inflexibilidade não conduz a resultados muito positivos em termos de educação. São a consistência, a insistência e a coerência nas regras que fazem com que as crianças percebam o que é certo e o que é errado. E também aqui podem existir exceções às regras, temos que explicar por que razão desta vez podemos pular a regra, para manter a coerência.


Autoritários ou permissivos?

Estudos relativos às práticas parentais concluíram que pais autoritários ou pais permissivos produzem exatamente o mesmo tipo de resultados: os filhos tornam-se inseguros e com fraca autoestima .

De fato, num esforço para ser firmes e evitar “estragar” os filhos, há pais que estabelecem demasiados limites, acabando por restringir demais. Por exemplo, exigir que uma criança de 3 anos, coma com garfo e faca ou que nunca corra pela casa, é bastante provável que ele não obedecerá a estas regras, e, pior ainda, podemos fazê-lo sentir que não consegue agradar-nos, ou que não faz nada bem, com consequências para a sua autoestima. No ponto oposto, os pais que não querem ou não conseguem impor limites aos seus filhos, também não estão a fazer-lhes bem: “Quem cede a todas as exigências dos filhos, quem não atribui consequências aos seus maus comportamentos, quem faz sempre ameaças que depois não cumpre, está a impedir os filhos de aprenderem a comportar-se de forma responsável”, termina o psicólogo. E Magda Gomes Dias acrescenta: “Criam-se adolescentes e adultos inseguros – porque os limites são importantes para se sentirem em segurança –, mas a achar que tudo lhes é devido, porque estão habituados a que todos os seus desejos se realizem e não sabem lidar com a frustração.”

No fundo, estabelecer regras e fazê-las cumprir é um ato de amor. E, para o fazer, os pais precisam autorizar-se a ser pais. “Temos de perceber que a nossa função é educar, e limitarmo-nos a educar, ponto. Nós hoje questionamo-nos muito. E argumentamos muito, damos demasiadas explicações. E isso passa insegurança para as crianças. Temos de as respeitar enquanto indivíduos, mas, ao mesmo tempo, assumirmos sem medo o nosso papel de pais. E isso passa por pararmos de fazer tudo para agradar aos nossos filhos, para não termos de lidar com a frustração deles, e, consequentemente, com a nossa”, resume Magda.


“As regras estruturam as crianças internamente e são um elemento que lhes dá segurança”, relembra Teresa Paula Marques. Fazê-las cumprir nem sempre é o caminho mais fácil, mas é o único em que criamos adultos responsáveis e emocionalmente equilibrados.


Relato de Pais

“Estivemos casados, sem filhos, durante quatro anos. Recebíamos amigos com frequência e a casa era o nosso orgulho. Quando a Joana nasceu, e à medida que foi crescendo, regras como ‘brincas à vontade, mas a seguir arrumas tudo no lugar’ foram repetidas até à exaustão. E ela as foi cumprindo. Cinco anos depois, nasceram os gémeos, que desconhecem o significado da palavra ‘arrumar’, e nós fomos obrigados a repensar as regras, porque não se adequavam à personalidades deles.”


Carla e Ricardo, pais da Joana, de 9 anos, e do Samuel e do Pedro, de 4 anos

“O Bruno tira-me do sério. Um dia, depois de lhe ter dito pela milionésima vez que não tirasse os CD da prateleira, perdi a paciência e gritei-lhe ‘Para com isso!’. Só que ‘não gritar’ é uma das regras da família, e então ele, sem hesitações, mandou-me ir para o quarto pensar no que tinha acabado de fazer”.

Sofia, mãe do Bruno, de 3 anos


“A Maria João e a Teresinha adoravam os vestidos de princesas que lhes tínhamos comprado, e vestiam-nos mal chegavam a casa, para brincarem. Mas depois de cada brincadeira, os vestidos ficavam num canto do chão do quarto. Um dia avisei-as que se voltasse a encontrá-los no chão levava-os para aqueles contentores solidários de recolha de roupa. No dia seguinte, claro, lá estavam os vestidos no chão. Meti-os num saco para os levar, mas elas ficaram tão transtornadas que chegámos a um acordo: compraram-nos de volta. Cada uma foi ao seu mealheiro e tirou cinco euros, que depois fomos entregar ao Exército de Salvação, que era a instituição solidária mais perto de casa.”

Mariana, mãe da Maria João, de 5 anos, e da Teresinha, de 7 anos


REGRAS PARA CRIAR BOAS REGRAS

As regras refletem os valores da família, pelo que devem referir-se ao que é realmente importante no seio da família, e não ao que parece certo ou normal. O psicólogo Rui Guedes deixa algumas dicas:


- O que faz sentido para os pais. Para alguns é importante que as crianças cumprimentem os conhecidos com um beijinho, outros não gostam que ninguém se levante da mesa antes de todos terem terminado de jantar, outros fazem questão de ter as áreas “públicas” da casa sempre arrumadas… Cada caso é um caso e as regras devem refletir isso mesmo.


- Crianças diferentes, regras diferentes. Embora determinado conjunto de regras se possa aplicar a todas as crianças de uma família, há outras que dependem muito da idade e do desenvolvimento de cada uma. A hora de deitar é um exemplo clássico.


- Sentença ajustada ao “crime”. Se a criança não desliga a televisão na hora estipulada, não faz muito sentido que o castigo por quebrar a regra seja não ir à festa de aniversário do primo no próximo fim--de-semana. Um “amanhã não vês televisão” é muito mais adequado. As crianças têm um sentido de justiça apurado, e aceitam melhor as consequências dos seus atos se lhe parecerem justas e relacionadas com a infração cometida.


- Dar o exemplo. Evidentemente que os adultos têm determinados privilégios, apenas pelo facto de serem adultos, mas no resto das regras (não gritar, comer de boca fechada, não entrar na casa de banho se lá estiver alguém…) convém que não sejam hipócritas e deem o exemplo.

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